terça-feira, 10 de maio de 2011

Uso da máquina de quadrinhos

Com objetivo de  estimular a escrita alfabética de meus alunos de 3º ano do ensino fundamental e enquanto síntese do trabalho sobre individualismo/cooperação nas relações nos diferentes grupos dos quais participamos, utilizamos  a organização de histórias em quadrinhos ( tirinhas) por meio da Máquina de Quadrinhos - http://www.maquinadequadrinhos.com/ - da Turma da Mônica.
O trabalho inicial foi desenvolvido partindo-se dos problemas e necessidades sentidas pelos alunos nas relações com os demais,  de conceitos, princípios e valores que devemos ter e desenvolver nos diferentes  grupos dos quais participamos.
Trabalhamos uma Turma que todos os alunos tinham contato de alguma forma e, conheciam os personagens. Uma Turma que apesar das diferenças e 'brigas' é cooperativa e convive bem. 
Organizamos o trabalho de forma que todos os professores - Arte, Educação Física, Biblioteca, se envolvessem e despertassem, nos alunos,  o gosto pela leitura, a interpretação,  a releitura e a produção de tirinhas.  A atividade   culminou com a produção de quadrinhos por meio do site, no laboratório de informática.
Procedemos a impressão das produções ( as histórias foram produzidas em duplas) e agora estamos procedendo  a análise, a interpretação e a organização da exposição do material.
Um ótimo motivo para incentivar a leitura e a escrita dos alunos, além de melhorar as relações e proporcionar a vivência cooperativa e desenvolver a autonomia.
Merece destaque a relevância deste gênero textual para o desenvolvimento das habilidade ligadas aos diferentes domínios da Língua Portuguesa.

Reprovação ou Rejeição ????

Durante muito tempo as estatísticas educacionais apontaram para um grande entrave para o aumento da escolaridade da população – a evasão. Por outro lado pesquisas internacionais e nacionais apontaram para outro problema do fluxo escolar – a repetência
A falta  de escolas  para o segundo seguimento do 1º grau e a idade avançada dos alunos em relação à série que cursavam, conseqüência das múltiplas reprovações,  problema vivido por  décadas pelos alunos brasileiros e, de forma mais acentuada pelos alunos oriundo de família de baixa renda, fez com que  a escolaridade da população sempre  estivesse em patamares insuficientes e  elevassem as desigualdades de oportunidades e disparidades regionais quanto às realizações educacionais .
Tais problemas  resultaram no baixo nível de escolaridade como sendo uma herança( maldita) passada de geração a geração, ratificando características indesejáveis que persistem no cenário educacional brasileiro:
a)o nível educacional médio da população é baixo; b) a educação está desigualmente distribuída; c) existe uma correlação alta entre as realizações educacionais das crianças e as de seus pais e avós, indicando a ausência de igualdade de oportunidades; d) há grandes disparidades regionais nas realizações educacionais das crianças.  (Barros e Lam, 1993)

Com o  atendimento praticamente resolvido no Brasil, a grande desafio que se impõe é o da qualidade – significando aprendizagem. Temos convivido, ainda com altíssimas taxas de reprovação e baixos níveis de desempenho  detectados, respectivamente,  pelo Censo Escolar e pelo Sistema de Avaliação da  Educação Básica.
Mesmo neste cenário desigual  temos experimentado, nas últimas décadas, uma melhoria sensível nos indicadores educacionais, fruto da expansão do atendimento na área:  diminuição nos índices de analfabetismo,  crescimento no número de matrículas em todos os níveis de ensino, aumento das taxas de escolaridade, dentre outros. Tais  melhorias  têm sido imputadas ao investimentos e atenção dada à área pela esfera governamental, mostrando claramente uma tendência unilateral na explicação para tal fenômeno.
Alguns estudos já apontam outros fatores para progressão educacional brasileira destacando desde  a  demanda familiar pela educação como também a urbanização e a transição demográfica no Brasil, ou seja, atribuem o crescimento positivo dos  indicadores à melhoria das condições das famílias  quanto aos recursos disponíveis para educação dos filhos.
Quando considerado o impacto da transição estrutural, da transição demográfica e da urbanização das últimas décadas podem ser distinguidas três dimensões principais: a primeira e mais estudada é a dos recursos econômicos ou capital econômico- quanto maiores os recursos disponíveis também maior será a demanda pela educação dos filhos; a segunda  é a dos recursos educacionais ou  capital cultural – o meio ambiente cognitivo na família;  e a terceira diz respeito aos próprios arranjos  familiares ou ao capital social- função e aspectos da estrutura familiar, observados pelas relações estabelecidas entre seus membros.
A terceira dimensão estabelece o contexto no qual os capitais econômico e cultural dos pais são convertidos em desempenho escolar das crianças, funcionando como um filtro para esses outros capitais. Vale destacar, ainda, o caso das famílias monoparentais, bem como das famílias com numerosos filhos pequenos, em idade escolar, em que ocorre uma diluição da atenção prestada pelos membros adultos às crianças (Coleman, 1988:111-113), interferindo diretamente no desempenho escolar. Por outro lado, como conseqüência da queda da fecundidade, tem ocorrido uma redução significativa no tamanho médio das famílias e no número de filhos, constituindo uma situação mais favorável à educação das crianças.
Consideração igualmente relevante deve-se à educação materna, não somente pelo seu efeito direto sobre a escolarização das crianças, mas também pelo fato de a educação das mães estar inversamente relacionada ao número de filhos (Lam, Sedlacek e Duryea, 1992).  Ao mesmo tempo, cresce a inserção das mulheres no mercado de trabalho  com possíveis efeitos negativos na escolarização dos filhos e situação desfavorável à infância conseqüência, também, do número de famílias chefiadas por mulheres. A maior estabilidade familiar propiciada pelas uniões legais se traduzem um melhor desempenho educacional de crianças e jovens (CEPAL, 1993).

Sendo a educação um elemento importante para favorecer o êxito na sociedade, a  escola  então é responsável pela seleção e socialização dos jovens e consequentemente pela estratificação social, considerando, também a origem  dos alunos.  Porém  seletividade escolar é fortemente influenciada  pela características que transversalizam as características sociais e econômicas de modo que a chances de sucesso são potencializadas por aqueles com maiores aspirações profissionais, com maior  capacidade cognitiva,  com  famílias ( monoparentais ou não), amigos, professores que estimulam a se desenvolverem.
Tal situação também pode ser observada quando comparada as características dos indivíduo à entrada e à saída do sistema educacional. Os ‘ amortecedores’ da origem social do aluno o são de tal maneira a ponto de diminuir ( e até neutralizar) o seu efeito sobre o desempenho e a progressão escolar.
            Sendo assim o  desempenho cognitivo do aluno -  função central da escola-  é influenciado por  fatores intra e extra-escolares. Não há ênfase em um fator isoladamente, pois nenhum, por si só, garante sucesso escolar, mas o conjunto deles.  Fatores associados aos alunos, suas famílias, seu grupo social são especialmente importantes pois suas condições econômicas poderão facilitar seu acesso a bens culturais, a uma maior intervenção dos pais em suas tarefas e auxílio, bem como potenciaizar expectativas. Fatores  internos à escola – gestão pedagógica e escolar, expectativa em relação aos alunos, igualdade no tratamento...serão determinantes no sucesso ou fracasso de crianças e jovens.
Eis o nosso grande desafio – tornar a escola pública cada vez mais eficaz e mais equitativa na produção do aprendizado de todos os seus alunos, para compreender  a relação entre as diferentes dimensões presentes no cotidiano educacional e uma sociedade com condições menos desiguais pode ser um bom começo para transformar estruturas e mentes arcaicas.

 
       Referências
1)      Recursos familiares e transições educacionais
Nelson do Valle Silva  &Carlos Hasenbalg:  1 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 18(Suplemento):67-76, 2002
2)    A pedagogia da repetência
Sergio Costa Ribeiro – estudos avançados, 1991
3)    Tendências da Desigualdade Educacional no Brasil
Nelson do Valle Silva  & Carlos Hasenbalg: Dados, Vol.1, n.3, RJ:2000